quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Cavernas-refúgio

O ser que nos tornamos através das escolhas que tomamos nos faz um alguém com certo tipo de máscara. E com esta máscara tentamos esconder o que nos incomoda e no nosso íntimo se torna obscuro como uma caverna. E lá, aquele lugar longe da iluminação da alegria, sem perceber, se torna nosso refúgio.
Esse refúgio que é onde escondemos a verdadeira essência do nosso eu se transforma cada vez mais profundo diante da nossa existência. Habituados a guardar segredos, sentimentos e definições secretas neste local acabamos nos perdendo na “bagunça dessa confusão”. E realmente se torna um pleonasmo porque diante de tanto sentimentos não-correspondidos, esperanças mortas, saudade do tempo que não volta mais, fracassos e frustrações é impossível se organizar de frente com tanto arrependimento, angustia e dor.
O perfume da minha alma já não existe mais. A essência que fazia nascer o perfume se esgotou. Agora já escasso me faz procurar uma nova essência. Mas, o que fazer quando cansamos de procurar ou se no nosso pensamento existe a idéia que isso é loucura? Que seria loucura procurar por algo que não existe e não volta mais.
Minha existência, o ser que sou (ou me tornei) não é diferente dos demais. Pode haver cavernas a mais ou a menos, mas continuarão sendo “cavernas-refúgio”. Todos nós possuímos esses tipos de cavernas: “cavernas-refúgio”.
O fato de elas existirem não quer dizer que vivemos apenas na escuridão, na solidão. O que acontece na maioria das vezes é que, essa solidão, que nos faz ser o que realmente somos e sem precisar inibir os reais sentimentos, se torna nossa amiga. Aquela amiga que nos acompanha sempre, aonde quer que vá. Aquela que não te deixa sozinho nem por um segundo, nem mesmo quando está em uma multidão.
Há casos onde essa caverna é fechada por pedras realmente grandes, sólidas e aquele lugar sombrio não existe mais. Mas há casos, assim como o meu, que não se fecham não se curam. Procurando por anos pedras suficientes parar cobrir o tamanho vazio, tamanho buraco que se solidificou em mim, não encontrei tais pedras. Tenho a sensação que a cada pedra que ponho a caverna aumenta ainda mais. Que a cada pedra que ponho aumenta outro buraco.
Não desisto de procurar as pedras. Não posso. Não consigo parar de procurá-las, porque sei que quando as achar encontrarei também respostas para as perguntas que se formou dentro de minha mente. Enfim, poderei perceber o meu verdadeiro eu que se esconde dentro dessa caverna e quando encontrar esse “eu” me assustarei, pois há tantas máscaras no armário de minha alma que me acostumei a enganar as pessoas escondendo o que se passa aqui dentro e ainda enganar a mim mesma e adquirir essas mascaras em meu rosto. Cheguei a tal ponto que não sei em que pessoa me tornei. Descobri em tão pouco tempo traumas, medos que não sabia que existia em mim. Me assustei talvez por não saber que existiam. Talvez por colocar máscaras também em cima de dores passadas, traumas e culpas.
E o abandono é um deles. E me surpreende que esse sentimento é meu companheiro desde a minha infância. Cresci acostumada a ser abandonada por pessoas que amava demais e me espelhava. E assim, construí uma caverna, talvez a maior de todas, para suprir a falta dessas pessoas. As ausências me machucam e não existiam pedras suficientes para tapar o espaço que deixaram, seja pela ausência e pelos carinhos não recebidos.
Descobri também que com o passar do tempo, as dores ficam mais pesadas e mais sólidas. A dor que sinto é indescritível, terrível e assustadora. E confesso que chegar a me dar medo. Me pergunto se ficarei assim até o fim dos meus dias, diante de abismos, esconderijos, cavernas, mascaras. E então, ficarei assim até a minha morte?

                                                                              17/06/10

Nenhum comentário:

Postar um comentário